Estudo indica que par de estrelas "esculpe" nebulosa
Um estudo divulgado nesta quinta-feira na revista Science indica que as formas simétricas de nebulosas planetárias são causadas pela ação de estrelas binárias nessas nuvens de gás e poeira. A descoberta dá suporte a uma teoria há muito debatida sobre o que causa a aparência desses objetos.
Os astrônomos estudavam a nebulosa Fleming 1 com o telescópio VLT, do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), que tem uma estrela anã branca no seu centro. Essa nebulosa tem jatos extraordinariamente simétricos, em padrões curvos e nodosos - o que causou muito debate por parte dos astrônomos sobre como eles se formam.
Foi uma equipe liderada por Henri Boffin, do ESO, que com observações e modelos em computador explicou como eles se formariam. Ao estudar a radiação emitida pela estrela central da nebulosa, eles descobriram que Fleming tem provavelmente não uma, mas duas anãs brancas no seu centro, orbitando em torno uma da outra a cada 1,2 dias.
"A origem das belas e complicadas formas da Fleming 1, e objetos semelhantes, tem gerado muito controvérsia ao longo de décadas," diz Boffin. "Os astrônomos já tinham sugerido uma estrela binária, mas pensou-se sempre que, sendo esse o caso, o par estaria bem separado, com um período orbital de dezenas de anos ou ainda mais longo. Graças aos nossos modelos e observações, que nos permitiram examinar este incomum sistema com muito detalhe e espreitar até o interior do coração da nebulosa, descobrimos que as estrelas do par se encontram várias milhares de vezes mais próximas entre si."
O que acontece é que uma estrela parecida com o Sol (com até oito massas solares) no final de sua vida ejeta suas camadas exteriores, que formam a nebulosa. O núcleo da estrela (que se transforma numa anã branca) emite muita luz e faz o gás brilhar. O novo estudo indica que existe uma interação entre as duas anãs brancas, que orbitam entre si ejetando material.
Segundo o modelo dos astrônomos, uma estrela atua como "vampira", sugando matéria da outra. A matéria sai de uma anã branca e circula em forma de disco (chamado de disco de acreção) antes ser absorvida pela outra. À medida que as estrelas orbitam uma à outra, elas interagem com o disco, que roda como um pião desengonçado (movimento chamado de precessão).
O movimento de precessão afeta os jatos que são emitidos pelas estrelas e formam a nebulosa, provocando padrões simétricos em torno de nebulosas planetárias como a Fleming 1. As imagens indicam ainda que existe um anel de matéria no interior da nuvem de gás. Segundo os pesquisadores, esse anel é conhecido em outras nebulosas do tipo e parece ser uma assinatura da presença de um par estelar.
"Os nossos resultados confirmam de modo consistente o papel desempenhado pela interação entre pares de estrelas, no sentido de darem forma, ou até formarem, as nebulosas planetárias," conclui Boffin.
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