As lamas e argilas ideais para a preservação de registos fósseis são menos comuns nos lagos marcianos do que na Terra. Um novo estudo de 226 antigos leitos no Planeta Vermelha revela que apenas um terço mostram evidências de tais depósitos à superfície hoje em dia.
Uma equipe de cientistas da Universidade de Brown, no estado americano de Rhode Island, estudou imagens da superfície de Marte obtidas pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, da sonda Mars Odyssey e da sonda Mars Express em busca de lagos que no passado já tiveram fluxos interiores e exteriores de água. Analisaram então a luz refletida de cada lago para determinar a sua composição química, na esperança de identificar as lamas e argilas que se encontram em tais sistemas aqui na Terra.
Descobriram que apenas 79 dos leitos continham depósitos de minerais que apontam para argilas à superfície. Esta escassez pode ser o resultado da química da mistura de água marciana e do solo, ou pode ser outro sinal de que a água no Planeta Vermelho apenas esteve à superfície durante um breve período de tempo, dizem os cientistas.
Se a vida se desenvolveu em Marte, os depósitos de argila e os sedimentos podem conter evidências da sua existência.
Quando o Curiosity, o próximo rover da NASA, chegar em Marte, neste ano, vai procurar argilas e sedimentos na Cratera Gale por indícios de ambientes passados que podem ter suportado vida microbiana.
"Os minerais nas argilas da Terra são bem conhecidos por preservar as assinaturas da vida," afirma Timothy Groudge, pesquisador principal do estudo. Dado que estes depósitos se formaram em grandes corpos de água, são particularmente promissores.
"Na Terra, quase todos os lagos que conhecemos têm formas de vida vivendo dentro dos sedimentos, ou no próprio lago. Dos possíveis candidatos, os lagos mostram grandes possibilidades." O estudo foi publicado na edição online da revista Icarus.
A água que passa por cima dos grãos de mineral agita-os e mistura-os, alterando quimicamente a sua estrutura à medida que se movem. Mas se a água apenas existiu por breves épocas, pode não ter tido tempo suficiente para a criação de grandes quantidades de argila.
"Atualmente em Marte, há muita água congelada, mas muito pouca água na superfície como pensamos ter havido no passado," afirma Goudge. "Se os próprios lagos tiveram pouco tempo de vida, faz sentido que água líquida à superfície também não tivesse aí ficado durante muito tempo."
De acordo com a equipe, todos os lagos estudados passaram por alguma forma de ressurgimento desde que se tornaram inativos há mais de 3,7 bilhões de anos. A lava dos vulcões cobriu alguns dos leitos, e os glaciares desceram dos pólos escondendo outros. Em alguns casos, alguns desapareceram devido à erosão dos tempos, expondo os sedimentos argilosos.
Isto é particularmente aparente na região de Nili Fossae, onde sedimentos expostos em lagos são particularmente densos. A área sofreu erosão substancial, revelando crostas tão antigas quanto 4,1 bilhões de anos, o que leva a equipe a favorecer o processo de escavar camadas e estudar os depósitos argilosos do passado. Esta hipótese é apenas experimental, mas poderia significar que muitos mais depósitos estão escondidos por baixo da superfície em outras partes de Marte, à espera de serem revelados.
Tal como os seus homólogos expostos, as argilas enterradas podem conter registros do passado do planeta. E não estão limitados por tamanho. "A grande vantagem dos minerais argilosos é que conseguem preservar a assinatura de vida numa variedade de escalas diferentes," conclui Goudge.
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